História


FUNDAÇÃO

O Ateneu Comercial de Lisboa foi fundado por um grupo de empregados do comércio, em 10 de Junho de 1880, ano em que se celebrava o tri-centenário da morte do grande épico Luís de Camões.
O carácter eminentemente cultural que os fundadores do Ateneu pretenderam imprimir a esta nova associação de classe, encontra-se bem patente nas escolhas feitas para o seu estandarte representativo, com a figura do deus Mercúrio, bem como de Luís de Camões para patrono.
Sendo inúmeras as referências do poeta à Mitologia, na sua grande obra “Os Lusíadas”, foi também significativo que, no dia da inauguração da primeira Sede Social, o busto de Camões oferecido pela comissão instaladora (que ainda hoje se encontra na sala da Direcção da colectividade), estivesse coberto pelo estandarte escolhido.
ESTANDARTE
O Estandarte do ATENEU apresenta o Deus Mercúrio - um jovem, ágil, sempre risonho, meio coberto com um manto, com asas no elmo, nos ombros e nos pés, simbolizando a sua rapidez nas comunicações, e empunhando o referido caduceu com que harmonizava os diferendos e os negócios. A Primavera deu-lhe a linguagem florida e sedutora. O Verão a sua devorante actividade. O Outono a experiência e a sabedoria. E o Inverno a dureza e o rigor.
FINS
O Ateneu Comercial Lisboa foi fundado, como consta do artigo 3º da proposta inicial, com as seguintes finalidades:
A organização de uma biblioteca, que ainda hoje subsiste.
A fundação de aulas diurnas de instrução primária para os filhos dos sócios e crianças pobres.
Aulas nocturnas de gramáticas portuguesa, francesa e inglesa e de escrituração comercial para os sócios. Realização de conferências científicas. Comemoração anual da data da inauguração, com a atribuição de um prémio ao aluno que com mais distinção tenha cursado a aula de instrução primária.
Concorrer ao Congresso anual das Associações e contribuir para a cunhagem da medalha comemorativa. Os primeiros estatutos, aprovados e publicados por alvará de 24 de Fevereiro de 1881 pelo Governo Civil, não apenas mantiveram os fins inicialmente preconizados, como lhes adicionaram aulas de ginástica, juntando o conceito de mente são em corpo são.
Desde logo porque, igualmente, e quase de imediato, se começaram a proporcionar aos associados aulas práticas indispensáveis ao exercício da profissão, como Português, Francês, Inglês, Elementos de Aritmética, Caligrafia, Economia Política, Direito Comercial, Contabilidade Geral e Operações Comerciais.
SEDES
A primeira Sede Social funcionou na Rua do Arco do Bandeira, 79 - 1º, a segunda na Rua das Pedras Negras, 24 - 2º, a terceira na Rua dos Fanqueiros, 196 - 2º, a quarta na Rua Capelo, 5, fixando-se, definitivamente, a partir de Julho de 1895, na sua actual localização, um palácio da Rua das Portas de Santo Antão, 110.
Este palácio foi inicialmente pertença do 8º Conde de Povolide, Tristão da Cunha de Ataíde e Melo e a primeira referência que se conhece das actuais instalações, remonta a finais do século XVI, como residência daquele nobre, na então Rua da Anunciada.
O chamado palácio da Anunciada resistiu ao terramoto de 1755 e foi posteriormente comprado por um argentário, o Conde de Burnay, sendo definitivamente adquirido pelo Ateneu em 9 de Outubro de 1926.
HISTÓRIAL
Para além da importância óbvia dos fins que estiveram na génese desta Instituição, cujos primeiros beneficiados eram os seus próprios associados, entenderam estes alargar os seus nobres desígnios à sociedade em que se inseriam.
É fundamental destacar o apoio educacional proporcionado a crianças pobres que aqui usufruíam da hipótese de receber educação escolar.
Pela própria natureza da sua fundação, uma associação de carácter profissional, o pendor dos seus associados era claramente republicano, o que não impediu que o trabalho desenvolvido pelo Ateneu fosse reconhecidos pela família real, que desde a primeira hora acompanharam muitas das iniciativas aqui desenvolvidas.
Foi o caso, em 1881, de Sarau musical e literário realizado no Teatro da Trindade, em homenagem a Calderon de la Barca, em que estiveram presentes El-rei D. Carlos, a rainha D. Amélia e o príncipe D. Luís.
Os reis visitaram o Ateneu em 1896 e 1897, e a rainha em 1900, 1902 e 1907.
No livro editado em 1905 para comemorar os primeiros 25 anos, essenciais à consolidação do Ateneu, e portanto ainda dentro do período da monarquia, podemos encontra os nomes que estiveram na génese desta associação de classe, bem como outros que a reforçaram e acompanharam, vindo a ter grande influência nos movimentos que foram determinantes para a implantação da República em 1910.
São personagens tão evidentes como Teófilo Braga, Manuel de Arriaga e Bernardino Machado, que viriam a ser os três primeiros Presidentes da República Portuguesa, sendo o último sócio de mérito do Ateneu.
Outros nomes são igualmente sonantes e estão perpetuados nas ruas de Lisboa que tantas vezes percorremos sem saber que também eles foram grandes figuras da história da nossa colectividade.
Serão os casos de:
Angelina Vidal, grande defensora dos direitos femininos;
António Augusto de Aguiar, um dos grandes lutadores pelo encerramento do comércio aos domingos;
António Rodrigues Sampaio, Ministro do Reino e representante do Governo em eventos organizados pelo Ateneu;
Constantino José Marques de Sampaio e Melo, uma figura internacional no ramo das flores artificias, cujo nome foi dado a um jardim em sua homenagem;
Fradesso da Silveira, grande apoiante do comércio e da indústria, criador de um museu nessa área e grande apoiante do Ateneu e das suas lutas.
Gonçalves Crespo, escritor, poeta e conferencista nas palestras organizadas pelo Ateneu;
Heliodoro Salgado, jornalista, republicano e conferencista nos nossos eventos;
José Estevão, grande tribuno nacional, sócio e apoiante das nossas iniciativas;
José Gregório de Rosa Araújo, Presidente da Câmara de Lisboa, presente na inauguração do Ateneu, seu benemérito e grande apoiante da luta pelo encerramento aos domingos;
Luciano Cordeiro, Presidente da Sociedade de Geografia e nosso sócio de mérito.
Miguel Bombarda, médico distinto e conferencista, nessa área, nas nossas palestras.
Oliveira Martins, escritor, impulsionador do encerramento do comércio aos domingos e colaborador das nossas iniciativas, tendo sido instituído um prémio com o seu nome, a atribuir a alunos que mais se destacassem.
O Conde de Arnoso (Bernardo Pinheiro Correia de Melo), grande figura da nobreza portuguesa, agraciado com comendas e ordens nobiliárquicas concedidas pelas monarquias espanhola e italiana, escritor de grande nomeada que sempre acompanhou e apoiou muitas das causas defendidas pelo Ateneu, participando em muitas das suas sessões solenes.
Rafael Bordalo Pinheiro, ceramista de renome internacional e que desenhou as nossas propostas de admissão para associados e os bilhetes de uma famosa gala organizada pelo Ateneu no Teatro da Trindade e à qual compareceram os reis de Portugal.
Sebastião de Magalhães Lima, um dos fundadores, com Teófilo Braga, do Partido Republicano. Representante da imprensa, e que presidiu à cerimónia de inauguração do Ateneu, nunca faltando com o seu apoio e acompanhamento em todas as iniciativas.
Se da história do Ateneu consta como fundador principal e primeira figura, José Maria de Lima e Nunes, sem retirar qualquer valor a essa figura essencial para a nossa existência como associação, verifica-se que apenas presidiu aos destinos do Ateneu entre 1880 e 1882, retirando-se para o Porto onde viria a pôr termo à vida.
Em contrapartida, outras figuras vieram a revelar-se de uma importância fulcral para a consolidação do Ateneu, com particular destaque para aquele a quem se atribui a ideia da fundação desta associação de classe, Alberto Gomes da Costa, que teve uma influência extraordinária em todos os aspectos da vida da colectividade, sendo professor de caligrafia, Secretário da Assembleia-Geral e Presidente da Direcção.
Um dos fundadores, Elysio Augusto dos Santos, foi quem sugeriu o deus Mercúrio para o nosso estandarte, que ofereceu ao Ateneu, bem como um dos principais autores dos nossos estatutos.
Outro fundador, Júlio Alexandre Irwin, foi quem sugeriu para a nascente associação o nome de Ateneu Comercial de Lisboa. Este publicista e grande figura do nosso comércio, foi director do nosso jornal e justificando, no desempenho dessa função, a categoria de sócio de mérito que lhe foi atribuída.
Guilherme Augusto Santa Rita
A sua influência na vida do Ateneu é bem patente no facto de, do livro dos primeiros 25 anos, apenas constarem duas fotografias. A sua e a de José Lima e Nunes, primeiro Presidente. Foi escritor, poeta, deputado e nomeado para a Academia de Letras onde não chegou a entrar. Nunca faltou com o seu apoio à associação de classe à qual aderiu desde a primeira hora.
José Bastos, não sendo um dos fundadores, foi outra das figuras determinantes para a consolidação da nossa associação, não apenas desempenhando elevados cargos nos órgãos sociais, como o de Presidente da Direcção, mas sendo ainda mentor dos estatutos, e um dos obreiros das mudanças para sempre melhores sedes.
Com o apoio e a dinâmica de gente de tal qualidades, foi o Ateneu impulsionador e apoiante de grandes iniciativas visando a melhoria das condições de vida dos empregados no comércio, como foi o caso de luta de muitos anos pelo encerramento das lojas ao domingo e das reduções de taxas fiscais que muito oneravam aqueles profissionais.
Passou o Ateneu Comercial Lisboa por grandes vicissitudes. Mas, com o decorrer dos anos, os novos dirigentes deram sempre continuidade ao trabalho dos seus antecessores e conseguiram transformar a Instituição (como tal consagrada desde 1926), numa das mais prestigiadas, actuantes e completas da sua área de intervenção.
A sua Escola Comercial, oficializada para o ensino do Curso Geral do Comércio, funcionou até 1978, data em que não mais foi possível suportar algumas das naturais consequências resultantes das grandes mudanças ocorridas em 1974, com a saudável proliferação de outros estabelecimentos de ensino, mas igualmente com aumentos significativos de encargos em áreas e aspectos que não foi possível superar.
O acabar da Escola e a progressiva desertificação da baixa lisboeta foram factores que contribuíram para a diminuição do número de associados, com a consequente perda de receitas, a consequente reconversão das actividades, mas, particularmente, dificultando a sempre desejada renovação dos quadros dirigentes, forjados, desde a juventude, no amor ao Ateneu.
DISTINÇÕES
Pela sua actividade reconhecidamente meritória ao longo dos anos o Ateneu Comercial de Lisboa tem sido agraciado com diversas distinções como:
  • Benemérito da Instituição Popular Nacional, por deliberação do 1º Congresso PedagógicoPortuguês (1908)
  • Oficialato da Ordem de Cristo
  • Oficialato da Ordem de Instrução e Benemerência.
  • Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa
  • Troféu Olímpico
  • Medalha do Mérito Desportivo
  • Instituição de Utilidade Pública - por Decreto de 23 de Junho de 1926

O PRESENTE

Ao longo da sua história, o Ateneu tem lutado sempre pela sua sobrevivência, sem os apoios que merece face à pureza do amadorismo e dos objectivos que continua a manter, em contraste com os chamados “grandes” clubes, hoje já transformados em empresas, carregados de dívidas, e que são um sorvedouro dos dinheiros públicos.
A Utilidade Pública que a clubes como o Ateneu Comercial Lisboa se atribui é hoje quase um título honorífico, porquanto a sua meritória actividade de complementação ou substituição do que deveriam ser as preocupações das entidades governamentais ou autárquicas, não é reconhecida na sua verdadeira dimensão.
Somos igualmente confrontados com os novos e legítimos conceitos de actividade física proporcionados por empresas privadas e apenas dedicadas à oferta exclusiva de tais serviços, tendo em vista o lucro respectivo, sem quaisquer preocupações de índole social.
Mas o Ateneu persiste fiel aos seus objectivos: “proporcionar aos seus associados a prática de actividades de natureza cultural, recreativa, desportiva e de educação física” (art. 3º dos Estatutos).